Quando o DNA influencia o gole: A propensão genética ao consumo de bebidas alcoólicas amargas
O gosto por uma bebida amarga — como vinho seco, chope artesanal ou café forte — pode parecer apenas uma questão de preferência pessoal. No entanto, estudos mostram que nossos genes também participam dessas escolhas, especialmente quando se trata de bebidas alcoólicas.
Em 2019, o pesquisador Victor W. Zhong e colaboradores realizaram um estudo com mais de 370 mil participantes, revelando que certas variações genéticas influenciam a tendência a consumir bebidas amargas e alcoólicas. Os genes GCKR, KLB e ADH1B se destacaram como importantes nessa relação (Zhong et al., 2019).
Os genes por trás do paladar e do álcool
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GCKR (Glucokinase Regulatory Protein):
Participa do metabolismo da glicose e do equilíbrio energético. Alterações nesse gene parecem afetar a percepção de sabor e o prazer associado a bebidas mais amargas ou alcoólicas. -
KLB (Beta-Klotho):
Atua em vias hormonais relacionadas à regulação metabólica e à resposta do cérebro a estímulos de prazer e recompensa. Pessoas com certas variantes desse gene podem sentir maior afinidade por bebidas alcoólicas amargas. -
ADH1B (Alcohol Dehydrogenase 1B):
Codifica uma enzima que transforma o álcool em acetaldeído no fígado. Algumas variantes tornam esse processo mais rápido, o que pode provocar reações desagradáveis (como vermelhidão e taquicardia), reduzindo a tolerância e o desejo pelo álcool.
Genética, comportamento e escolhas
A influência genética no consumo de bebidas alcoólicas não significa que os genes “determinem” o comportamento, mas sim que modulam a sensibilidade do organismo aos efeitos do álcool e do sabor amargo.
Ou seja, pessoas com certas variantes podem achar o álcool mais agradável, enquanto outras sentem desconforto ou menos prazer ao consumi-lo. Essa diferença ajuda a explicar por que duas pessoas com o mesmo hábito social podem reagir de formas tão distintas ao beber.
Por que esse conhecimento é importante
Compreender a relação entre genética e consumo de álcool permite avançar em estratégias de prevenção e aconselhamento individualizado. Laboratórios como a DNA Consult utilizam análises genéticas para identificar predisposições comportamentais e metabólicas, contribuindo para hábitos mais saudáveis e escolhas mais conscientes.
Referência
ZHONG, V. W. et al. A genome-wide association study of bitter and sweet beverage consumption. Human Molecular Genetics, 2019.

