A vitamina B9, também conhecida como folato, desempenha um papel crucial em várias funções biológicas, incluindo a síntese de DNA, a reparação celular e a metilação de DNA. No entanto, a eficiência da absorção e utilização do folato pode variar significativamente entre indivíduos, devido a diferenças genéticas.

 

O Papel do Gene MTHFR na Metabolização do Folato

O gene MTHFR codifica uma enzima fundamental no ciclo do folato, responsável por converter a 5,10-metilenotetraidrofolato em 5-metiltetraidrofolato, a forma ativa do folato utilizada para a metilação da homocisteína em metionina. Alterações na função dessa enzima, devido a variantes genéticas, podem levar à acumulação de homocisteína e a uma menor disponibilidade de metilfolato, impactando negativamente diversas vias biológicas, como a síntese de neurotransmissores e a reparação do DNA.

 

Sobre os polimorfismos rs17421511 e rs1999594: Relevância no Risco Genético

Entre os vários polimorfismos identificados no gene MTHFR, os "rs17421511" e "rs1999594" têm ganhado destaque devido à sua associação com a metabolização do folato e os riscos genéticos subsequentes. Estudos de associação ampla do genoma (GWAS), como o realizado por Yang et al. (2023), demonstraram que esses polimorfismos podem estar ligados a níveis geneticamente preditos de folato e vitamina B12, influenciando o risco de doenças autoimunes e outras condições importantes.

 

Polimorfismo rs17421511**: Localizado no exon 6 do gene MTHFR, este SNP (polimorfismo de nucleotídeo único) tem sido associado a uma redução da atividade enzimática do MTHFR. Indivíduos com a variante de risco apresentam uma menor capacidade de conversão do folato em sua forma metilada ativa, o que pode aumentar os níveis de homocisteína e predispor o indivíduo a condições como trombofilia e doenças cardiovasculares.

 

Polimorfismo rs1999594: Este SNP, localizado na região regulatória do gene MTHFR, pode influenciar a expressão do gene e, consequentemente, a atividade da enzima MTHFR. Assim como o rs17421511, o rs1999594 tem sido relacionado a alterações nos níveis de folato no plasma e a um maior risco de doenças associadas à deficiência de folato, como defeitos no tubo neural durante a gravidez.

 

O estudo de Yang et al. utilizou a randomização mendeliana para investigar a relação entre níveis geneticamente preditos de folato e vitamina B12 e o risco de doenças autoimunes. O estudo descobriu que variantes genéticas que predispõem a níveis elevados de folato estavam associadas a um risco reduzido de doenças autoimunes, sugerindo que a adequação dos níveis de folato pode ter um papel protetor contra essas condições. No entanto, indivíduos com variantes que afetam a função do MTHFR podem necessitar de intervenções específicas para alcançar níveis ótimos de folato.

A compreensão do perfil genético de um paciente é essencial para determinar a melhor abordagem de suplementação de folato. Pacientes com variantes que comprometem a atividade do MTHFR, como rs17421511 e rs1999594, podem se beneficiar mais da suplementação com **metilfolato** ou **ácido folínico** em vez de ácido fólico.

 

Metilfolato: É a forma bioativa do folato e não requer metabolização adicional pela MTHFR. Essa opção é frequentemente preferida para pacientes com variantes genéticas que reduzem a função da MTHFR, pois garante que o corpo tenha uma forma imediatamente utilizável de folato.

 

Ácido folínico: Também é uma forma bioativa, mas diferente do metilfolato, o ácido folínico pode ser convertido em outras formas de folato que participam de diferentes vias metabólicas. É uma alternativa útil em casos onde o metilfolato não é bem tolerado.

A escolha da suplementação e a dosagem devem ser ajustadas com base nos resultados do mapeamento genético, permitindo uma abordagem personalizada que maximiza os benefícios e minimiza os riscos associados à metabolização inadequada de folato.

O entendimento da rota metabólica da absorção de vitamina B9 e o impacto das variantes genéticas no gene MTHFR são fundamentais para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento personalizadas. A identificação de polimorfismos como rs17421511 e rs1999594 oferece uma ferramenta poderosa para profissionais de saúde na tomada de decisões informadas sobre suplementação e manejo de riscos associados a deficiências de folato. Ao integrar essa informação genética com estudos como o de Yang et al. (2023), podemos avançar em direção a uma medicina mais precisa e eficaz.

05 de setembro de 2024 — Rodrigo Matheucci