A maior parte das pessoas associa diverticulite a “falta de fibra”. Mas os estudos genéticos mais recentes sugerem algo bem mais intrigante: uma assinatura biológica de tecido conjuntivo (colágeno/elastina) e de “comandos” de movimento do cólon. Ou seja, como a parede do intestino é construída e como o intestino se contrai parecem preparar o terreno para formar divertículos — e, depois, inflamar. 

O que a ciência mais nova diz: 

  • Grandes GWAS (estudos genômicos com centenas de milhares de pessoas) acharam dezenas a centenas de loci de risco para doença diverticular, reforçando duas vias principais: integridade do tecido conjuntivo da parede do cólon e motilidade (músculo liso + sistema nervoso entérico).  

 

  • Integrações com RNA de célula única mostram células musculares, estromais e neurais do intestino como atores-chaveconectando genética a biologia real do cólon.  

 

  • Por que isso importa? Porque ajuda a explicar “como” divertículos se formam (fraquezas na parede + forças mecânicas) e por que alguns evoluem para diverticulite. 

Genes em foco: o que cada um pode sinalizar 

COL6A2 — matriz extracelular/colágeno VI 

Sugere participação da qualidade da parede do cólon. Quando a engenharia do “tecido de suporte” não é ideal, surgem pontos de fraqueza. 

  

KIF26B — motilidade/maquinaria celular 

Relaciona-se a proteínas motoras (kinesinas). Pode influenciar o tônus e a coordenação das contrações do cólon. 

  

HHIP — via Hedgehog (desenvolvimento tecidual) 

Participa da manutenção de camadas musculares e do nicho mesenquimal. Toca o eixo estrutura + motilidade. 

  

PTPN14 e MOB2 — via Hippo/YAP (mecano-sinalização e reparo) 

Conectam força mecânica, reparo epitelial e inflamação. Podem interferir em como a parede responde ao estresse. 

  

JAZF1 — eixo metabólico/inflamatório 

Clássico em metabolismo e sensibilidade à insulina. Metabolismo desregulado pode piorar inflamação e cicatrização. 

 

Importante: associação genética ≠ diagnóstico. Esses genes ajudam a mapear vias biológicas (parede, motilidade, reparo, metabolismo) que, somadas a fatores de estilo de vida, constroem o risco individual. 

Referências: 

MAGUIRE, L. H.; PEERY, A. F.; CAI, Q.; et al. Genome-wide association analyses identify 39 new susceptibility loci for diverticular disease. Nature Genetics, v. 50, p. 1359–1365, 2018. DOI: 10.1038/s41588-018-0203-0. 

WU, Y.; WANG, X.; CHEN, Z.; et al. 150 risk variants for diverticular disease of intestine identified by GWAS; integration with human gut single-cell RNA-seq implicates myocytes, stromal and neural cells. Cell Genomics, v. 3, p. 100399, 2023. DOI: 10.1016/j.xgen.2023.100399.  

CAMILLERI, M. Etiopathogenetic mechanisms in diverticular disease of the colon. Cellular and Molecular Gastroenterology and Hepatology, v. 9, n. 1, p. 15–32, 2020. DOI: 10.1016/j.jcmgh.2019.07.007. 

HONG, A. W.; MENG, Z.; GUAN, K.-L. The Hippo pathway in intestinal regeneration and disease. Nature Reviews Gastroenterology & Hepatology, v. 13, p. 324–337, 2016. DOI: 10.1038/nrgastro.2016.49.

WALTON, K. D.; WRIGHT, C. V. E.; SCHNEIDER, A.; et al. Hedgehog signaling in intestinal development and homeostasis. Annual Review of Physiology, v. 83, p. 359–380, 2021. DOI: 10.1146/annurev-physiol-031620-094324.

20 de outubro de 2025 — Rodrigo Matheucci